E cá estou na Turquia, desafiando meu desconforto antigo com um lugar que sempre me pareceu já religiosa e moralmente fundamentalista demais. Mas, sinceramente, nem foi o que me pegou hoje. Pelo menos aqui na capital não parece haver necessidade de algum cuidado de conduta redobrado, e a Istambul isto deve se aplicar mais ainda. Na verdade, a Ucrânia me pareceu mais policial e tinha um ar mais totalitário, a mesma impressão que a Rússia me causou um tempo atrás. Aqui, mais do que totalitarismo, percebo ausência. A cidade parece um enorme e contínuo Bom Retiro, cheia de gente, cheia de carros, uma quantidade enorme de lojinhas de cacarecos, os buracos pelas ruas e calçadas, lixo no chão. O conceito de fila, desde o aeroporto, é virtualmente inexistente. As pessoas avançam uns 3 metros na faixa de pedestres e lá ficam, obstinandamente esperando o sinal abrir, desafiando os motoristas que passam, os quais, por sua vez, igualmente também não respeitam os pedestres.
Na comparação com os belos (e principalmente as belas) caucasianos, um povinho mais feioso, narigudo, eu diria meio sujinho, até. Muitas senhoras vestindo lenços e burcas, para tentar impedir a visão daquilo que, convenhamos, ninguém está muito interessado em espiar mesmo, e que não corre o risco de inspirar a lascívia de outrem nem mesmo se pintado com canetinha fluorescente e salpicado de glitter cor-de-rosa.
A questão da comunicabilidade é um pouco menos desesperadora, pareçe que mais
gente fala ao menos algum rudimento de inglês, e sem dúvida se esforçam mais para fazê-lo. O alfabeto é mais próximo do nosso, então as coisas são mais legíveis mas, em compensação, menos compreensíveis, porque pouquíssimas palavras têm raiz comum com o português ou inglês, então simplesmente não há como chutar o que significam. No aeroporto, ao saber que somos brasileiros, o simpático carinha das informações turísticas começa a cantarolar 'Copacabana', e pergunta se o nome dela era mesmo Lola. Eu jamais poderia imaginar que algum dia fosse inspirar uma associação direta com Barry Manilow. E o pior é que eu até que gosto dele.
Ah, e o câmbio de dinheiro tem, pela primeira vez, uma comissão, salgada, de 4%. Ladrôes.



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