sábado, 19 de outubro de 2013

19/10 - Bonn

Aproveitando hoje o último dia de sol segundo a previsão do tempo, que não tem falhado até o momento. De acordo com ela, agora sem chuva só a partir da segunda à tarde.



Pela manhã, fomos até a casa onde nasceu Beethoven, para tirar fotos na frente da porta, e economizar os 10 euros da entrada. Ao contrário de Salzburg, a beethovenmania aqui dura apenas um quarteirão, e não rende chocolates Beethoven, supositórios Beethoven e enemas anais Beethoven, como com sua congênere.



À tarde, não deu pra escapar de pagar o ingresso, e lá se vão 10 euros para entrar no museu de história natural. Teria sido um programinha digno se gratuito. Tendo que pagar, a gente consegue evitar menos a sensação de que torrou uma grana só pra ver uns bichos empalhados e, no final das contas, e daí? 
Vendo uns sapinhos e lagartixas no aquário, não pude deixar de viajar na analogia: que condição têm eles de apreender o conceito de cativeiro, quanto e de que modo conseguem saber que não estão em seu habitat natural, mas a mercê do dono do museu que cobra 5 contos dos incautos que vêm bater no vidro para tentar fazê-los se mexerem.... talvez nós também sejamos prisioneiros de um grande zoológico cósmico, e nossa angústia existencial, aquele ruído de fundo que nos faz sentir que algo está fundamentalmente fora do lugar, seja o mais próximo que consigamos chegar de nomear este deslocamento. Mas não. Como disse Kundera, é só a insuportável leveza do ser mesmo.



E à noite, a apoteose: uma montagem estilo meio M Officer de Jesus Christ Superstar na Ópera de Bonn... Escorchantes, inacreditáveis e aviltantes 35 euros, e nem seria assim minha primeira opção de musical para assistir ensandecido de contentamento por nele ter esbarrado por acaso. Mas foi o mais próximo disto, então tava valendo.
Escutei a versão original umas 2 vezes na vida, sem grande entusiasmo, e em meu conceito Andrew Lloyd Webber meio que continuava sendo assim o José Sarney do mundo dos musicais. Não escutei Evita e nem pretendo, mas, enfim, o libretista é Tim Rice, que começou fazendo o rascunho com estes dois musicais, depois um pouco melhor com as letras de 1984 do Rick Wakeman... enquanto, paralelamente, as óperas passaram quinhentos anos amadurecendo, evoluiram para os musicais.... enquanto, lá na Suécia, Benny e Björn também praticaram bastante naquele grupinho com duas moças vagamente gostosas.... e tudo isto finalmente convergiu em Chess, tudo aquilo que, já que estamos na terra de Beethoven, Fidelio sonhou em ser um dia quando crescesse. 
Mas gostei do que escutei. Até que a música também é boa, faz bom uso da noção vagneriana de leitmotif, a cenografia que parecia que seria meio pobrezinha de início surpreende em alguns momentos. Tudo posto, não me arrependo.



P.S. 1: E como já mencionei, meu amigão Tim Rice é o letrista das músicas de meu mais novo CD, 'ChessDerbal', que está atualmente no forno, e deve ficar pronto em tempo para ser presenteado para uma dúzia de coitados no natal. Pobres vítimas, vão deixar de ganhar algum cacareco mais útil, e além de ter que fazer de conta que existiu um Jesus Cristo que nasceu para nos salvar do pecado original e blá blá blá, ainda vão ter que fazer de conta que escutaram e gostaram de meu CD. Os dois primeiros, 'AderElton JohnBal' e 'Aderbal Horror Picture Show' já estã esgotados, quem ganhou, ganhou, e quem não ganhou tem muita sorte. E todos vão valer uma grana fodida no eBay daqui a uns anos.



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