quinta-feira, 7 de novembro de 2013

07/11 - Istanbul

Bom, a boa notícia é que os intestinos não se manifestaram dentro do ônibus. A má é que a bexiga, sim. O que é ainda mais decepcionante em certo sentido. Digo, o número dois pode ser uma demanda inegociável e feroz da natureza, uma urgência que não aceita qualquer forma de compromisso ou adiamento, e então nada nos resta senão nos resignarmos a seus malcheirosos caprichos. Já o número um é coisa insidiosa, cumulativa, que não se manifesta com a explosividade de uma blitzkrieg fecal, mas de forma crescente, contínua, cumulativa, até que finalmente também nos derrota e nos faz gastar uma lira turca pra dar um mijão na parada do ônibus. Pagar para fazer algo que já nos humilha fazer de graça dá bem a noção da verdadeira natureza humana: somos apenas um monte de excremento recoberto por uma película de estética frágil e precária.


Pela manhã, ao chegar a Istanbul, mais da chuva, que havia nos dado uma trégua nas últimas duas semanas. E o metrô não integrado ao tróleibus, tendo que pagar tudo duas vezes. E o hotel que não nos permite entrar no quarto logo cedo sem cobrar adicional, deixando-nos literalmente na chuva, molhados, emputecidos, com os dedos dos pés se enrugando. Aproveitamos então para ir comprar os protocolares presentes de viagem no Grande Bazar, mercadão coberto com umas 4000 lojinhas cheias de turcos que repetiam a palavra "obrrrigado" a cada vez que dizíamos ser brasileiros. Já foi pior, em outros carnavais a reação era dizerem "Ronaldinho". Todos muito ostensivos, se aderindo ativamente ao cangote assim que chegávamos suficientemente próximos para sofrer o efeito desta estranha força de atração, forçando situações de negociação e pechincha, manifestando certa indignação não de todo falsa quando a venda não se consumava.


Depois finalmente conseguimos entrar no quarto do hotel, um cubículo sem janelas não muito diferente de uma cabine interna de segunda classe num navio, mas com uma temperatura de uns 52 graus, porque os controles remotos dos condicionadores de ar haviam sido mandados para a assistência técnica. Já antevi 3 dias de indescritível suplício, mas após protestos conseguiram sequestrar o controle de um dos quartos aparentemente vagos, e a coisa teve final quase feliz. Mudar-nos para o outro quarto, com janelas, nem pensar. 


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